[Crônicas de Quinta]: Não Quer Entrar Para Tomar Uma Xícara de Café?
By Luciana Souza - 15:26
A manhã estava fria e chuvosa demais para me permitir levantar, mas não era como se tivesse muita opção. A contra-gosto me pus de pé e fui para o meu ritual matinal de arrumação, nem o clima, nem minha boa vontade estavam colaborando para que eu terminasse logo, depois de um longo banho quente eu estava pronta para começar meu dia. Ao caminhar pela casa notei que estava tudo uma bagunça, não me lembrava ao certo o que havia ocorrido na noite passada, havia cacos de vidro ao pé da porta e os portas retratos estavam virados. Sento-me no sofá e observo a TV desligada como quem assiste ao programa preferido, então começo a me recordar do que havia acontecido. Havia velas e flores para todo lado, uma mesa bela e posta para dois, vinho tinto e um suflê de dar água na boca, mas, ele estava atrasado. Começo a andar de um lado a outro impaciente, estava ficando nervosa e com medo, exatas uma hora e quarenta e três minutos depois a campainha toca, era ele. Estava lindo naquela jaqueta café, o capacete na mão e o cabelo um pouco bagunçado, ficamos alguns segundos ali parados nos olhando, cada um na expectativa de que o outro falasse algo, "onde você estava?" Perguntei por fim, ele estava muito atrasado era bom que tivesse uma boa explicação, ele apenas me observou.
Aquela altura o penteado tinha dado espaço a um coque mal feito e os saltos dera espaço ao chão. Sorrateiramente ele passou para dentro do meu apartamento, ainda em silencio, ele se sentou e olhou para fixo um ponto imaginário, " você não vai falar nada?" ele se virou e me olhou penetrante, de alguma forma me senti invadida por aquele olhar "olha eu sinto muito pelo atraso, me desculpe", desculpe era só o que ele tinha a me dizer, uma hora e quarenta e três minutos de atraso se resumira a um me desculpe, "poderia ter me avisado, assim não teria perdido tempo fazendo tudo isso" no fim eu já havia desfeito a mesa, apagado as velas e jogado as flores fora, sei que o que acabara de dizer tinha sido cruel, mas eu estava irritada. Ele continuou em silencio e aquilo me deixou frustrada, a situação se tornou tensa e acabamos por brigar, quer dizer eu falar e ele apenas escutar. Aquilo estava me matando, era nosso aniversario, como ele podia se atrasar e simplesmente não dizer nada, apenas se sentou me observou como uma criança olha para um estranho que fala com ele. "Para mim já chega, vá embora" foi a unica coisa que conseguir dizer antes de coloca-lo para fora do meu apartamento, quando me dei conta havia arremessado um copo contra a porta, tudo se fora, um ano resumido a nada.
O toque da campainha me trouxe de volta a manhã, uma lágrima me escapou pelo canto do olho antes que eu pudesse evitar, eu não estava em condições nem interessada em atender, permaneci ali em silencio na esperança da pessoa ir embora, o que não aconteceu. Alguns segundos depois ela tocou de novo e de novo, não havia outra opção "já vai" foi a unica coisa que consegui dizer, me levantei recolhi a bagunça e então abri a porta, era ele. Esta parado a soleira, com a mesma roupa da noite passada me observando, "preciso de um café", ele estava brincando comigo ou o que, aparecer na minha porta depois de tudo e me pedir um café, mas a unica coisa que consegui dizer foi "o que?" , ele me olhou profundamente, se aproximou e me abracou, ao meu ouvido ele então explicou "me atrasei ontem porque minha mãe se acidentou, me desculpe" eu paralisei, não sabia o que fazer ou muito menos o que falar, eu havia me equivocado e errado, tinha muito o que concertar, me afastei e o observei, aquele cafe agora parecia uma boa opção, um bom recomeço, então "entre" e fechei a porta.
6 Comentários
Ahhhh!!!! Aquele pedacinho de vida que faz o coração da gente ficar apreensivo,mas que depois, esquenta facinho, tal qual o café que não esfriou!
ResponderExcluirLindo!!!
Beijo
Provavelmente o minha favorita até agora. Esses fins abertos me deixam curiosíssima. Tão bom lê-lo estando no mesmo climinha frio inicial. Eu adorei! <3
ResponderExcluirQue legal sua crônica. Eu realmente não esperava pelo final. Sinceramente, eu ainda ficaria brava pro não ter me dito na hora o que aconteceu, mas também o convidaria pra entrar e conversar.
ResponderExcluirVidas em Preto e Branco
Que tocante!
ResponderExcluirÉ bem assim, as vezes nos equivocamos e por medo ou insegurança, podemos por tudo a perder...
bjss
Olá!
ResponderExcluirO amor e feito o café, não pode estar muito doce e nem muito amargo, nem tão frio e nem tão quente, tudo tem que está balanceado..Amei seu texto, você sempre arrasa, parabéns!
Meu blog:
Tempos Literários
Oii!
ResponderExcluirLuciana amei, café e amor a mistura perfeita!
Lindo!
Bjs!