[Crônicas de Quinta]: O Último Ato

By Luciana Souza - 13:49

Assisti-lo dia após dia era tudo o que me restava, a distância tanto em milhas quanto em grau não me deixava esquecer o quão impossível ele era para mim, ao menos era o que eu pensava até o destino me provar o contrário.

Setembro de 1988...
O pôr-do-sol ao longe no horizonte me mostrava que o programa já estava perto de começar, assisti-lo todas as noites era meu motivo para acordar todos os dias, o acompanhei desde o inicio e ele se tornou um orgulho para mim, uma inspiração, algo que talvez eu nunca me torne, já sei que meu destino é acabar numa velha casa no campo repleta de gatos e plantas, sozinha sentada na varanda apenas observando o dia passar, triste eu sei, mas é o que meu destino me reserva. De tola entrei em casa e liguei a TV na intenção de repetir o meu ritual diário favorito, assisti-lo, ingênua não pude perceber que naquela noite minha vida mudaria por completo.

O sol já se punha a tempos e a lua reluzia lá no alto como uma lampada acessa no horizonte, a TV só passava longos e repetidos comerciais e ele não aparecia comecei a ficar nervosa e preocupada o que será que havia acontecido, porque ele não aparecia? Porque eles não falavam nada sobre ele? Era como se ele nunca tivesse existido para eles, assustada me levantei e sai, sem rumo e sem direção com apenas uma coisa na cabeça...precisava encontra-lo.

De malas feitas e sem nenhum bilhete de despedida tomei o primeiro trem para Boston na esperança de vê-lo ao menos uma ultima vez, as longas horas de viagem serviram somente para e deixar mais inquieta e preocupada com o que pudera acontecer...mas fora em vão, cada tostão gastado, cada milha percorrida, cada hora de sono perdida fora em vão. Ele não estava em Boston. Ninguém sabia onde ele estava, ele simplesmente havia sumido literalmente do dia para noite, triste e sem entender o que havia acontecido apenas peguei de volta o primeiro trem a fim de voltar para minha inútil e triste vida sem ele, mas ao colocar a mala na varanda me deparei com ele, parado a me olhar.

- O que faz aqui? - Perguntei assustada.

- Vim te ver, estava com saudades de casa. - me respondeu sorridente, ele não mudara nada nesses últimos anos, mantera as feições de criança, aquelas as quais tanto me apeguei.

- Mas e o programa? E a sua vida em Boston? - Ele estava na minha varanda novamente, meu coração batia tão forte que eu sentia como se fosse explodir a qualquer momento, uma vontade louca de abraca-lo me invadia mais e mais, não imagina quanto tempo ainda aguentaria.

- Para mim não dá mais, eu sinto muita falta de casa, sinto muita falta de você, tudo isso não é nada sem você, então eu apenas larguei tudo e vim embora.

- Simplesmente desistiu de tudo pelo qual lutou sua vida toda? - eu precisava saber, acompanhei ele esse tempo todo sei o quão difícil foi sua jornada, não ia deixa-lo desistir por mais que o queresse do meu lado para sempre.

- Não pequena, aquele foi meu ultimo ato, em Boston, quero recomeçar aqui e com você, durante todos esses anos eu pensei em você, lembrei dos nossos momentos e senti muito sua saudade, sabia que mesmo a distancia você cuidaria e torceria por mim e percebi então que já estava na hora de voltar, o que me diz vamos viver? Viver nosso felizes para sempre?

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5 Comentários

  1. Quantas coisas na vida vivemos a esperar? São tantas vezes que pensamos em desistir e ocupar o espaço vazio somente ocupado pela saudade. Esperar ou seguir em frente? Perda de tempo ou fé? Cada um sabe a importância de sua espera. Adorei.

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  2. An-nyong-se-ha-yo!
    Senti a ansiedade da personagem. Que demais!

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  3. Esperar esperar ... Que coisa!!
    A gte parece q se vê em cada pedaço da crônica, adorei!
    Bjs!

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  4. E...será que o amor venceu?rs
    Tenho adorado acompanhar a saga e espero que no final, tudo fique bem. Desistir dos sonhos pelo amor, será mesmo a saída? Será que no futuro a frustração não pega de jeito?
    Veremos..
    Beijo

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  5. Tanto sentimento dentro de um único texto, tantos significados.

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