As vezes é difícil deixar a imaginação me guiar, mesmo em meio a meras palavras borradas em uma folha amassada de papel me sinto fechada e sem coragem de dizer tudo o que realmente anda preso aqui dentro. A verdade é que já faz um tempo que não sei mais quem eu sou e muito pouco entendo o que caminho que venho trilhando ao decorrer dos longos dias que ando enfrentando. Eu sei parece depressivo. Mas acredite, não é. Deixo-me guiar por entre palavras entaladas na garganta e sufocadas por um sorriso forçado que insisto em colocar nos lábios todos os dias, mesmo sabendo que as pessoas a minha volta já não acreditam mais nele. Nem eu acredito. Me sinto ainda mais sozinha a cada novo dia que surge, sem vontade ou interesse de sair da cama, me pego olhando para um teto manchado e me perguntando quando aquela infeliz rotina terá um fim. Eu sei que cabe a mim decidir. Mas não quero, essa é a verdade. Gostaria que ao menos uma vez na vida tudo se resolve sem que eu tivesse que interferir em algo.
Desabafo. É o que parece esse texto, mas no fundo não passa de mera palavras jogadas entre batidas rápidas de teclas empoeiradas e uma pressa em desafogar o que parece estar prestes a transbordar dentro de mim. Já teve a sensação de derramar para dentro e não para fora? Não queira, se nunca teve, é como cair em um lago negro no meio da noite, sem ninguém para te socorrer, você sente a água gelada entrar por sua boca e narinas e tomar conta de todo o seu corpo, te sufocando por dentro. Estou cheia. Quase derramando para ser sincera. Mas não que isso vá mudar algo ou resolver alguma coisa, a verdade – sou cheia de verdades, já notaram? – é que a gente derrama meio corpo e volta para debaixo da torneira que é a rotina desgastante que nos envolvemos por mero comodismo. Derramar meio corpo. Deu para entender?
A cada dia que passa me sinto mais presa a mim mesma. Faz tanto tempo que não tenho uma boa conversa que tenho a sensação de estar desaprendendo a falar. Vê se pode? Loucura, eu sei, mas é assim que me sinto. Me sinto sozinha em meio a imensidão de pessoas a minha volta, como uma rádio fora de sintonia e abandonada que ninguém mais ouve. Essa é verdade. Escrevo porque ninguém me ouve. Ou finge não ouvir. Nem eu quero me ouvir às vezes, as mesmas lamúrias e desencontros de sempre. Assim como a total falta de vontade de fazer tudo diferente. Como eu disse estou transbordando, então não espere nada de mim nesse instante e nem nos próximos...sei lá quanto tempo. Não sei quando serei eu de novo, se é que isso é possível, provavelmente quando conseguir derramar meu meio corpo já serei uma nova pessoa como a mesma imensidão negra e sufocante de sempre. Isso é possível? Teremos que descobrir não é mesmo.
No fim as palavras se tornam clichês e repetitivas como uma professora ensinando alfabeto para uma turma. Ficamos só no falar ao longo dos anos e nos acomodamos em não fazer nada. Apenas sonhamos e esperamos que a solução caia do céu como uma forte chuva que surge na calada da noite. Um dia me disseram que eu colocava muito de mim em minhas palavras e que isso era perigoso, como se eu me perdesse a cada novo texto. Por um tempo deixei de ser assim e senti que me perdi de mim no meio dessa transição e olhem só, nunca mais me achei. Não sou mais aquela garota de 2010 que começou a escrever para desafogar o turbilhão em seu peito no velho Tumblr. Me senti retraída por um tempo e ainda me sinto assim, às vezes só consigo aliviar o peso quando jogo palavras sem nexo num velho papel ou até mesmo num rascunho do nosso eterno Word. Só assim tenho a sensação de que me acho e de que sei quem sou naquele momento. Uma garota que no auge dos seus vinte e tantos anos que se encontra numa encruzilhada entre seguir a vida em prol dos outros ou em prol de si mesma. Perdidas entre realidade e sonhos. Afogando-se em si mesma. Se transformando numa grande e negra imensidão sem fim.
3 Comentários
Seus textos são tão lindos. Está sempre de parabéns! <3
ResponderExcluirQuem de nós nunca se sentiu assim?! Às vezes sentimos uma coragem de avançar e fazer coisas que nem mesmo havíamos imaginado fazer antes e sair da rotina que tanto sufoca. O problema talvez não seja o de desaprender a falar, acho mesmo que as pessoas se esqueceram como ouvir, por isso a cada dia nos sentimos mais solitários. Lindo texto.
ResponderExcluirLuciana que lindo!
ResponderExcluirMe vejo em cada palavra sua citada no texto...
Sinto tantos medos, tantas cosias que ainda não consigo lidar, mas eu cego lá rsrs
Parabéns!
Bjs!